Verdades sobre a transposição

Por Cássio Borges

No início do corrente mês de dezembro, foi lançado, no Senado Federal, pelo ex-governador de Sergipe, João Alves, um livro denominado Toda a verdade sobre a transposição do Rio São Francisco, numa desesperada e última tentativa de obstacularizar a concretização daquele projeto de engenharia. O livro, de muito blá-blá-blá e pouca técnica, consta de 254 páginas e foi escrito por mais oito autores, dando-me a impressão de que “o pacto existente entre os autores” de escreverem “de forma acessível a todos os brasileiros” foi cumprido visto que as teses e os argumentos apresentados são destituídos de qualquer fundamentação técnico-científica.

É lamentável que o ex-governador João Alves, sendo engenheiro, não tenha recorrido, uma só vez, à expressão “m3/s” (metro cúbico por segundo), da ciência hidrológica, braço direito da Engenharia Ambiental, para justificar, cientificamente, suas teses e argumentos contrários àquele empreendimento do qual, segundo o livro, “as obras já foram iniciadas –apesar de forma apenas simbólica, com a utilização do Batalhão de Engenharia do Exército”.

Dos exemplos citados pelo engenheiro João Alves, admirável pela sua obstinação e disposição de luta em favor de uma tese que ele defende há anos, é incompreensível que ele não tenha feito menção a dois casos de transposição de vazões, aqui mesmo no Brasil: o do Rio Piracicaba, que cedeu 68% de suas águas para a cidade de São Paulo e o do Rio Paraíba do Sul, que também destinou mais de 60 % de sua vazão para atender o abastecimento de água da população do Rio de Janeiro. No caso do Rio São Francisco, o que se pretende tirar, para resolver a questão da água em nossa região, é apenas um valor simbólico de 26 m3/s, ou seja, 1,5 % de sua vazão média, da ordem de 2.850 m3/s. Repito, 1,5% de uma vazão total que se perde, inevitavelmente, para o mar. Ressalte-se, ainda, que esta vazão de 26 m3/s não é retirada nem no Estado de Minas Gerais, nem no Estado da Bahia, mas abaixo da barragem de Sobradinho, portanto, num trecho do Rio São Francisco que apresenta uma vazão regularizada artificialmente da ordem de 2.060 m3/s, valor este permanente durante todo o ano, como consta em todos os compêndios relativos à bacia em referência. Só uma pessoa destituída da lógica e do bom senso, não vê esta nua e crua verdade.

O ex-governador de Sergipe, se de um lado, com exaltação, reconhece o extraordinário trabalho feito pelo Dnocs em nossa região, dedicando-lhe algumas páginas, por outro, demonstra desconhecer o semi-árido nordestino, quase todo em cima do cristalino, ao afirmar: “… um verdadeiro mar de água doce existente no semi-árido do Nordeste brasileiro que tem a maior reserva de água do sub-solo do Brasil, à exceção do majestoso aqüífero Guarani, um dos três maiores do mundo”. O aquífero Guarani localiza-se no sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e Argentina.

Fonte: Opinião – Jornal O Povo