Discussão inoportuna
Por Cássio Borges
Entra governo e sai governo, desde a época de Collor de Melo, e o Dnocs continua na corda bamba, sendo alvo das mais absurdas e insidiosas discriminações, na atual conjuntura, incrivelmente, por parte da cúpula do próprio Governo Federal, cujo Presidente é um nordestino. Agora o que se apregoa, no limiar dos seus 100 anos de existência, é a mudança do seu tradicional nome de Departamento Nacional de Obras Contra as Secas para Departamento Nacional de Convivência com o Semi-Árido.
Se a questão é valorizar aquele importante organismo federal, patrimônio do povo nordestino, é muito mais lógico e oportuno resgatar a sua gloriosa história de lutas “contra as secas” que, diga-se, a bem da verdade, tem sido a sua brilhante e vitoriosa trajetória na outrora desventurada região nordestina. Felizmente, o Dnocs mudou e continua mudando esta triste realidade.
A palavra “convivência” remete à ideia de “aceitação”, “acomodação”, “conformismo”, “renúncia” e “resignação”. Uma das justificativas dessa extemporânea decisão, afirmam, seria “uma questão de marketing”. Outra, porque na denominação atual existe a palavra “contra as secas” que, no meu entendimento traduz a combativa e obstinada luta do povo nordestino para mudar seu destino “contra uma natureza adversa” que o destino impiedosamente lhe reservou. A palavra “contra” passa a ideia de “lutas”, “determinação”, “conquistas”, “mudanças” e “inconformismo”.
A Sociedade dos Amigos do Dnocs-Soad, que congrega não só servidores do Dnocs (ativos e inativos), como qualquer brasileiro, em uma de suas reuniões manifestou-se contrária a qualquer decisão que vise alterar o nome daquele secular departamento federal, de extraordinários serviços prestados à nossa Região. Essa questão de mudar seu nome (na realidade, não é de agora) é profundamente lamentável e reveladora, no mínimo, da absoluta falta de cultura dos seus perpetradores, incapazes de valorizar suas extraordinárias realizações e seus feitos passados que o consagraram no seio da comunidade técnico-científica brasileira, porque não dizer, mundial.
Na realidade, no Ceará, se preserva mal seu patrimônio toponímico, especialmente quando se levam em conta nomes tradicionais de ruas e avenidas de suas cidades. Também preserva mal o patrimônio público. Recife é uma exceção: rua do Sol, rua da Aurora, rua da Crioula, rua Nova, rua da Concórdia, entre outras que se eternizam através dos tempos.
A geração de 50 fez a Petrobras e, na década de 90, um presidente da República cogitou de mudar o nome dessa empresa para Petrobrax. Felizmente, essa ideia considerada, à época, constrangedora abortou.
Fonte: Jornal O Povo