“Uma Luta de Séculos”
Por Ronaldo Lessa
Em “O Quinze”, romance publicado em 1930, Rachel de Queiroz aborda a tragédia da seca de 1915. Assim como Fabiano, de Graciliano Ramos, Chico Bento deixa a terra calcinada e parte com a família. Chegando em Fortaleza é jogado no Curral da Fome, espécie de Campo de Concentração, onde as autoridade despejam e mantêm sob força policial os flagelados da seca. A miséria é total e a morte parece ser a única saída. A escritora cearense vivenciou o drama e o transformou em literatura. Um drama que se repete há séculos e exige dos governos algo que vai além dos discursos.
Mas nesse aspecto há idas e vindas. O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca que passou a atuar em 1945 foi criado, na verdade, em 1909 sob o nome de Inspetoria de Obras Contra a Seca. Em 1999, foi extinto através da medida provisória 1795 do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, que extinguiria também a SUDENE dois anos depois. O presidente Lula, que conhece bem a região, pois nascido aqui, corrigiu o erro e trouxe os órgãos de volta após assumir o governo em 2002. E os órgãos estão trabalhando.
Na semana passada estivemos em Jaramataia, sertão de Alagoas participando da inauguração de uma estação de piscicultura ao lado do diretor geral do DNOCS, Elias Fernandes Melo, e do deputado federal Maurício Quintella. Curiosamente, chove na região desde então, mas todos nós sabemos que a seca ainda é, temporariamente, mais forte.
Além de produzir alevinos (5 milhões/ano), que serão distribuídos em açudes públicos, a obra tem por objetivo promover pesquisa, incentivar a piscicultura, e transferir tecnologia ao setor produtivo.
Elias Fernandes Neto destacou que a obra é um marco. Segundo ele, O DNOCS estava sucateado e o presidente Lula o reativou para benefício da população sertaneja. Hoje são quatorze obras em andamento só no estado de Alagoas, sendo que doze delas estarão prontas ainda este ano e as outras duas no início de 2011. Essas obras consumirão cerca de R$2 bilhões em recursos do PAC.
O DNOCS foi um presente do governo do presidente Lula ao povo nordestino. É uma pena que o atual governo não sabe, ou não quer, usufruir de todo o potencial do órgão para trazer avanços sociais ao já tão sofrido povo do sertão de Alagoas. Não será só Jaramataia que se beneficiará com a estação de piscicultura, mas sim toda a região sertaneja, pois conta com salas de aulas para treinamento e atualização de jovens, benefício que pode gerar emprego e renda a todo o sertão de Alagoas.
No final de “O Quinze”, Chico Bento decide esquecer o Nordeste e decide partir rumo ao norte, em direção aos seringais, mas é aconselhado a ir para São Paulo, para enfrentar um novo C
urral da Fome. O que se lê na ficção não pode mais se repetir na vida real. Precisamos continuar lutando pelo Sertão.
Fonte: Primeira Edição