Reflexões sobre enchentes no Baixo Jaguaribe
Cassio Borges
Engenheiro civil, especializado em Hidrologia e Recursos Hídricos
borgescassio@hotmail.com
No último artigo que publiquei no O POVO, no dia 13/3/2017, eu escrevi que “o açude Castanhão, além de regularizar vazões, foi previsto para controlar enchentes no Baixo Jaguaribe”. Para isso, o extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS) destinou um volume em sua bacia hidráulica, entre as cotas 100m e 106m, para acumular 2,3 bilhões de m³ de água, o chamado “volume de espera”, para “reter”, ou “controlar”, as enchentes no Baixo Jaguaribe.
O anúncio da construção dessa barragem surgiu no ano de 1985, cinco meses após a mais catastrófica enchente que, até então, se tinha registro no Rio Jaguaribe. O anúncio, praticamente, coincidiu com o abalo emocional que ainda se fazia sentir em toda a população do Baixo Jaguaribe, ainda não refeita dos danos e traumas causados pelas enchentes de abril e início de maio de 1985. A cidade de Limoeiro, ficou coberta pelas águas e a sua principal rua, a Dom Aureliano Matos, alcançou, em sua quase total extensão, uma lâmina d’água de 30 centímetros.
O projeto desse açude somente foi oficialmente concluído (?) em 1990, prevendo duas etapas para o seu total enchimento, 6,7 bilhões de m³. Da cota 53m até a cota 100m, pode acumular 4,4 bilhões de m³, destinado à regularização de vazões, e da cota 100m à cota 106m, mais 2,3 bilhões de m³, “um volume de espera” destinado ao controle de enchentes, segundo o projeto concebido pelo DNOS. Mas esse “volume de espera”, entretanto, de 2,3 bilhões de m³ é insignificante, se tomarmos como exemplo o inverno de 1985 quando só no mês de abril transitou pela seção do açude Castanhão (Boqueirão do Cunha) um volume de 8,5 bilhões de m³ de água e mais 5,3 bilhões em maio.
Não precisa ser especialista em recursos hídricos para concluir, diante dos dados acima citados, que o açude Castanhão, com apenas 2,3 bilhões de m³ de espera, não controla enchentes. E isso deve ficar bem claro para a população do Baixo Jaguaribe. O mesmo raciocínio se poderia dizer em relação aos anos de 1924 e 1974, entre os de maiores enchentes naquela região.