A Futura Gestão dos Recursos Hídricos
Por Cássio Borges
No semi-árido nordestino, a irregularidade das chuvas tem ocasionado ”ciclos secos” de até oito anos seguidos como o que foi constatado entre os anos de 1950 e 1958. Mais recentemente, tivemos ”um ciclo seco desfavorável” de cinco anos entre os anos de 1979 e 1983, tendo a sua abrangência atingido, até mesmo, o Estado do Maranhão. A constatação desses ”períodos críticos” já, há tempos, feita pelo Dnocs, acarreta a redução do aporte de água fluvial para os reservatórios o que, por deficiência de recarga e por medida de precaução, impossibilita a utilização plena do volume de água armazenado nos açudes, do qual, em conseqüência, boa parte se perde pela elevada evaporação ( 2.500 milímetros).
Ao integrar os grandes açudes da Região a uma fonte perene externa como o Rio São Francisco, os recursos hídricos locais se potencializarão, possibilitando a gestão de um volume bem maior da água armazenada, estimulando o desenvolvimento social e econômico, tanto na agricultura irrigada, na pecuária, como na indústria, gerando emprego, renda e produzindo alimentos, o que é de interesse Nacional. Com a garantia dessa fonte externa, intensificando-se a utilização das águas acumuladas nos reservatórios, diminuirá a superfície exposta à evaporação e esta se reduzirá, aumentando, de forma substancial, a disponibilidade hídrica realmente utilizável. Em outras palavras, o desenvolvimento social e econômico se dará de forma mais abrangente não pela água do Rio São Francisco que estará chegando, mas pela intensiva utilização das águas locais que seriam perdidas para a atmosfera pelo efeito incontrolável da evaporação. Desta forma, as águas advindas da transposição serão reservadas, exclusivamente, ao abastecimento humano e animal sempre que os açudes estiverem secos, ou na iminência de secar.
Como exemplo, o açude Castanhão, que perde por evaporação, em média, cerca de 25 m 3/s, enquanto o aproveitamento regular de sua água é de apenas 19 m3/s. Essa perda poderia ser reduzida até menos da metade, gerando virtualmente um novo reservatório, e aumentando, significativamente, o aproveitamento de suas águas. Pois esse açude acumula 4,2 bilhões de metros cúbicos na sua cota de regularização. Desse volume, 30% são, em média, evaporados anualmente, restando, portanto, 3,0 bilhões.Destes, apenas são utilizáveis um volume da ordem de 600 milhões de m3 (19 m3/s), pois os restantes 2,4 bilhões de metros cúbicos deixam de ser utilizados justamente para ”guardar a água” para vencer uma possível futura seca prolongada, ou um ”trem de anos secos” no vocabulário do Dnocs. Não mais será necessária essa precaução de ”guardar água” após a concretização da transposição, ou como quer o Ministro Ciro Gomes, do Projeto de Interligação de Bacias.
Como acima foi explicado, desaparecerá, completamente, o mais recente argumento dos opositores: ”a água vinda do Rio São Francisco é muito cara” ou, ainda, ”é chover no molhado” (ver Folha de São Paulo, do dia 17.10.05, na entrevista dada pelo pesquisador João Suassuna na matéria sob o título:”Para opositores, projeto é chover no molhado”). Mas esse tipo de declaração só se pode atribuir à completa ignorância do que seja o semi-árido e aí incluo muitos dos que dizem ser cientistas (em que área da ciência?) e, por isso se acham com o direito de falar sobre esse tema nordestino, delicado e complexo, que desconhecem.
Não pode deixar de ser salientado que, pelo acima exposto, o custo da água trazida pela transposição será diluído no uso mais intenso e eficaz da água acumulada nos açudes. Ou seja, na realidade, cada m 3 transposto irá representar um volume maior utilizável. Pelo que, inegavelmente, não é o custo do m3 da água bombeada do Rio São Francisco que deve ser considerado na análise do custo/benéfico da Transposição, mas sim sua eficiência hídrica.
Fonte: Opinião – Jornal O Povo