Água: Imperícia e negligência
Por Cássio Borges – Engenheiro civil – borgescassio@hotmail.com
Lembro na oportuni-dade, o lamentável episódio do rompimento do dique do açude Gavião que provocou súbita inundação
Ainda há muito que se discutir em relação ao planejamento dos recursos hídricos do Vale do Rio Jaguaribe como, por exemplo, se ainda é válida a construção ou não da Barragem do Castanheiro, prevista pelo Dnocs, no Rio Salgado, em local muito mais afastado do litoral e em cota muito mais elevada do que à do açude Castanhão. A capacidade de acumulação desse reservatório poderia ser de até dois bilhões de metros cúbicos, num boqueirão de apenas 90 metros de largura, enquanto que a do Castanhão, que supostamente o substituiu, tem um comprimento (pasmem!) da ordem de 12.000 metros.
Referida obra teria, de imediato, a possibilidade do aproveitamento das várzeas do Icó, sujeitas a inundações periódicas, além de manter o controle daquele importante afluente do rio Jaguaribe, que se poderia denominar de a “caixa d`água” do estado do Ceará. Na concepção do Dnocs, os açudes Castanheiro, Orós e Castanhão, este com 1, 2 bilhão de metros cúbicos, se constituiriam a espinha dorsal do planejamento hídrico do Vale do Jaguaribe. Na minha ótica, a exclusão do açude Castanheiro se constituiu um erro que precisa ser corrigido no planejamento global daquela importante região do estado do Ceará.
Mas não tem sido somente este o único erro que se tem cometido em relação à questão dos recursos hídricos no Ceará. Lembro, na oportunidade, o lamentável episódio do rompimento do dique do açude Gavião que provocou súbita inundação em uma ampla área da capital cearense, levando riscos de vida a mais de 30 mil pessoas, além de prejuízos materiais. O laudo técnico elaborado pelo eminente professor Theóphilo Ottoni e por mim, feito sob a égide da chamada ”CPI da Água”, da Câmara de Vereadores, sobre esse grave acontecimento ocorrido no inverno de 1995, apontou “negligência e imperícia”, além de “irregularidades técnicas e administrativas”.
Fato semelhante poderia ter acontecido em 2009 quando uma discussão nos meios de comunicação, envolvendo técnicos, políticos e jornalistas, questionava se no final do rigoroso inverno daquele ano, seria necessário ou não abrir as comportas do açude Castanhão que, àquela altura, já estava com sua acumulação d´água acima do seu nível de alerta para controle de enchentes (cota 100m) e bem próxima do seu represamento máximo, de 6,7 bilhões de metros cúbicos.
Felizmente, não tivemos uma chuva excepcional, como a do dia 3/1 deste ano, de 148 mm, que poderia ocasionar o rompimento de um dique daquele açude, com consequências muito mais trágicas do que aquela do açude Gavião. Graças a este erro, o Castanhão ganhou uma acumulação adicional de 2,3 bilhões de m3 que hoje está sendo responsável pelo abastecimento de água da capital cearense. Que os episódios acima sirvam de advertência para os que lidam com obras hidráulicas portadoras de riscos para as comunidades.
Fonte: O Povo online