As comportas do Castanhão
Por Cássio Borges
Em recente sessão da Assembleia Legislativa, numa acalorada discussão entre os deputados Cirilo Pimenta, Fernando Hugo e Carlomano Marques sobre a abertura das comportas do açude Castanhão, este último teria dito ser de minha autoria a afirmação de que “o açude Castanhão não encheria nunca”. Em nenhum dos meus artigos na imprensa cearense sobre esse empreendimento, há qualquer afirmação minha nesse sentido. Sempre defendi, inclusive nas audiências do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), uma posição favorável à construção de 10 a 12 barragens de portes médio no Alto Jaguaribe e na bacia do Rio Salgado no que denominei este planejamento de “a democratização da água e da piscicultura”, sendo a barragem do Castanhão uma delas, mas com um volume de acumulação de 1,2 bilhão de metros cúbicos, em vez de 6,7 bilhões.
Para evitar futuras distorções, escrevi, em 1999, um livro denominado “A Face Oculta da Barragem do Castanhão”, constante de 346 páginas, onde se lê: “O açude Castanhão poderá passar por longos períodos sem sangrar, de 10 a 20 anos”. Isto é uma conclusão hidrológica, estatisticamente comprovada.
Neste artigo, gostaria, ainda, de transcrever para o ilustre deputado Carlomano Marques que, com certeza, nunca viu a capa do referido livro, este trecho da página 197: “No trabalho intitulado As Enchentes no Vale do Jaguaribe, Dimensões, Frequência e Alternativas de Controle, publicado no Boletim do Dnocs, em 1985, e no Simpósio da Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH), no mesmo ano, ressaltamos que houve cheias excepcionais nos anos de 1924 (19,3 bilhões de m3), 1974 (16,8 bilhões de m3) e 1985 (20,9 bilhões de m3)”. Dissemos, ainda, no referido livro “que só no mês de abril de 1985 escoaram pelo Boqueirão do Cunha (leia-se, açude Castanhão) 11,99 bilhões de m3 de água”, portanto o advérbio “nunca” jamais poderia ser empregado neste caso. Desta forma, considerando que o açude Castanhão tem 6,7 bilhões de m3 de acumulação, conclui-se que tal tese não poderia ser, de forma alguma, de minha autoria.
Sobre a abertura ou não das comportas do Castanhão, deve-se considerar as duas finalidades da barragem: Um “volume de espera”, da ordem de 2,3 bilhões de m3, insignificante para controle de enchentes, e uma acumulação de 4, 4 bilhões de m3 para regularização de vazões do Rio Jaguaribe que serão utilizadas para reforçar o abastecimento de água da Região Metropolitana de Fortaleza e a irrigação de 43.000 hectares. Portanto, este “volume de espera” deverá estar sempre vazio para qualquer eventualidade. E já deveria estar assim desde o final do inverno do ano passado.
Fonte: Jornal O Povo