As enchentes e o Castanhão

Por Cássio Borges

Do inverno deste ano que, no Vale do Rio Jaguaribe, não foi dos maiores destes últimos 25 anos, pode-se concluir que a barragem do Castanhão, para invernos excepcionais como os de 1924, 1974 e 1985, não controlaria as suas enchentes, contrariando, assim, os seus mais exaltados e entusiastas defensores.

O açude Castanhão, com seus 6,7 bilhões de m³ de acumulação, como já me referi em outras oportunidades, constitui grave erro de planejamento. Começa pela sua localização. Praticamente situado no Baixo Jaguaribe, encontra-se distante apenas cerca 140 quilômetros do mar, enquanto a linha de curso do Rio Jaguaribe tem mais de 700 quilômetros. Qual o benefício do referido reservatório em relação ao município de Tauá, por exemplo, que dista, acima daquela barragem, cerca de 500 quilômetros e fica a mais de 400 metros de altura em relação à superfície líquida daquele reservatório? Nenhum! A mesma pergunta cabe para todos os municípios localizados no Alto Jaguaribe e também nos situados na bacia do Rio Salgado.

No meu entendimento, exposto em vários artigos publicados por este jornal, o açude Castanhão deveria ter, no máximo, 1,2 bilhão de m³ e os 3,3 bilhões de m³ que sobrariam (de sua capacidade máxima de regularização, que é de 4,5 bilhões de m³, cota 100m), fossem distribuídos espacialmente, em 10 ou 12 barragens de porte médio, em toda a bacia hidrográfica do Rio Jaguaribe e do seu afluente, o Rio Salgado. Seria uma forma de distribuição equitativa e democrática de benefícios para toda a população daquela importante Região do Estado do Ceará.

A verdade é que o Castanhão, da forma como foi construído, com 6,7 bilhões de m3, nem resolve o problema das cheias excepcionais, como ficou demonstrado no inverno regular deste ano (apenas um pouco acima da média histórica), como concentra, em sua bacia hidráulica, quase a totalidade dos recursos hídricos do Rio Jaguaribe, a montante da seção de sua construção, que compreende uma superfície de 44 km².

Do exposto, chega-se à conclusão de que toda faixa litorânea, onde se situa a cidade de Fortaleza, está excepcionalmente bem servida em recursos hídricos disponíveis, enquanto municípios interioranos, a montante do açude Castanhão, continuarão sofrendo as consequências inclementes das secas periódicas. Esclareço que essas regiões, onde são sentidos os efeitos maiores das secas, por suas localizações, em cotas elevadas (de 150 até 600, ou mais, metros de altitude), jamais poderão ser beneficiadas pelo Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco, pois exigiriam elevados bombeamentos de água, a longas distâncias (contra a declividade), tornando-as, portanto, economicamente inviáveis.

Fonte: Jornal O Povo