Dessalinização da água do mar


Por Cássio Borges – borgescassio@hotmail.com
Engenheiro civil, especialista em recursos hídricos e barragens

A revista Veja do dia 20/5 trás interessante matéria sobre o tema da dessalinização da água do mar com a seguinte indagação: “Seria uma saída para o Brasil?”. A própria revista descarta esta solução para a cidade de São Paulo, “a maior e a mais rica cidade do país, onde há meses seus moradores convivem com torneiras secas”, pois “além dos altos custos do processo: mais caro do que tirar o sal da água do mar é levá-lo morro acima – a capital paulista está localizada a longínquos 760 metros de altura do nível do mar”.

O caso de São Paulo nos adverte que este tipo de solução deve ser pensado, mas para regiões não muito distantes do litoral, como é o caso da região metropolitana de Fortaleza, ou cidades litorâneas como Recife, por exemplo, apesar de sua proximidade do rio São Francisco, uma solução economicamente mais viável. Há poucos dias, eu chamava a atenção em artigo publicado no blog do jornalista Eliomar de Lima que a cidade de Jaguaretama, situada dentro da bacia hidráulica do açude Castanhão, a apenas 20 quilômetros de sua margem, estava sem água. Portanto, o problema não é só produzir água, é muito importante, também, levar em consideração o custo do seu transporte para os distantes locais e elevadas altitudes onde ela esteja sendo necessária.

Para se ter uma ideia, a usina referida pela revista Veja na Califórnia vai produzir 190 milhões de litros de água por dia, ou seja, 190 mil metros cúbicos de água por dia, equivalente a 2,2 m3/s. O custo desse empreendimento, segundo a revista, é da ordem de U$ 1 bilhão, ou seja, algo em torno de R$ 3 bilhões.

Acredito que a construção da barragem do Castanheiro, no rio Salgado, em Lavras da Mangabeira, lógica e evidentemente é muito mais viável, a um custo em torno de R$ 500 milhões, podendo ter sua vazão regularizada em cerca de 9 m3/s, valor este mais ou menos equivalente ao que é consumido na região metropolitana de Fortaleza. Mas a incompetência falou mais alto e esse importantíssimo açude foi descartado pela Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará.

Como pensar em dessalinização da água do mar se ainda se tem um potencial de açudes a explorar? A minha opinião é que primeiramente deveremos recorrer às reservas sustentáveis de que dispomos.

Fonte: O Povo Online