Deus, a natureza e a água
Por Evandro Bezerra
Engenheiro Agrônomo, Jornalista e Diretor de Ação Social da ASSECAS
evandrobezerra430@gmail.com
Dizem que Deus é a natureza. O autor deste artigo, entretanto, não concorda e acha que Deus é Deus mesmo. Que Ele fez o planeta Terra e o mar. E o céu? Mas os gregos acreditavam que a Terra era um planeta sólido e batizaram-na de Telus-Terra como se o elemento sólido fosse único. A percuciência dos homens é que descobriu que, na realidade, a Terra é um planeta marinho, sendo 94% do seu volume de oceanos, 4,34% de águas do subsolo,; 1,65% de geleiras ;e 0,01% de rios e lagos. As águas dos oceanos são impróprias para o consumo; as águas doces, 1,66% estão localizadas nos polos, rios e lagos e são de utilização difícil, mas a tecnologia moderna permite que 0,01% seja utilizável. O Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (Dnocs) não fez e está fazendo isso no Nordeste semiárido equatorial? Viva o Dnocs! Sim, mas a água é um bem finito. Contudo o Dnocs é o caminho, a verdade e a vida de 58 milhões de pessoas que habitam o Nordeste como um todo. As suas ações vão além semiárido.
O maior problema da humanidade é exatamente o problema da água a partir do século XXI com prognósticos de que, a partir do ano de 2025 haverá escassez de água para 2/3 da população mundial, e a Organização das Nações Unidas (ONU) calcula que, dentro de 25 anos, quase 3 bilhões de pessoas viverão em regiões de seca crônica. Mas o autor desta matéria duvida, porque grande parte delas morrerão de fome, sede e doenças. Sim, e tem mais, a Organização Mundial da Saúde, OMS, afirma que 1,2 bilhão de pessoas no mundo não dispõem de água potável; 80% das doenças e 30% das mortes são causadas por água contaminada. Quem afirma tudo isso é Caio Lóssio Botelho, um dos maiores polígrafos da Terra da Luz, Ceará.
A Hiléia Amazônica brasileira possui 20% da água doce do mundo, mas o Nordeste padece de secas cíclicas e, agora, parece que ela pode se prolongar e o Sudeste, incluindo aí Minas Gerais, onde está a caixa d’água do rio São Francisco, poderá não socorrer o Nordeste semiárido que padece da seca crônica.
O Planeta Terra, que existe há 5 bilhões de anos e que a vida nele começou há quase 3 bilhões de anos, tem no homem, que surgiu há menos de 1 milhão de anos, o moderador dos acontecimentos catastróficos implementando medidas para tornar a vida factível no planeta telúrico. Mas a origem da Terra está ligada à origem do sistema solar e, como tal, ela não reina absoluta, sendo, pois, dependente daquele sistema. Daí existe uma coisa interrelacionada com o Sol que é o seu movimento de translação ao redor do astro-rei fazendo com que a Terra ora se aproxime dele (periélio) e ora se afaste dele (afélio).
Como a Terra não é redonda, mas, sim, um elipsóide de revolução (geóide), ela possui uma excentricidade e obliquidade que variam de acordo com a inclinação de sua órbita em relação ao Sol em seu movimento de translação. Assim feito, ela recebe maior ou menor quantidade de radiação solar que varia de acordo com as zonas climáticas da Terra: zona equatorial, os raios caem perpendicularmente; obliquamente; na zona temperada; e tangencialmente, na zona glacial.
O Nordeste semiárido brasileiro está situado na Zona Equatorial onde existe apenas uma estação chuvosa com dois máximos de chuvas nos períodos equinociais, sem estação seca como na Amazônia. Mas, no Nordeste, tal não ocorre porque aqui o clima astronômico se anomalizou criando um clima físico atípico na faixa equatorial da Terra. Começa o problema da seca por aí. Aqui no Nordeste, o clima é, portanto, tropical como nas Zonas Tropicais com duas estações, uma seca e outra chuvosa, esta se refletindo em sua irregularidade, ocasionando a seca. Por isso, a seca não deve ser estudada apenas do ponto de vista meteoreológico e climatológicos mas devem ser levados em consideração vários fatores astronômicos, como a excentricidade da eclíptica (variações), a obliquidade da eclíptica (variações), manchas solares, e outras mais como isostasia, eustasia, fatores magnéticos terrestres, desmatamento e as trocas energéticas atmosfera-solo-água e, principalmente, as variações climáticas.
Neste desiderato, surge uma única coisa que muito tem a ver com a classe política brasileira desacreditada no contexto ideológico da democracia. Seja qual for a causa, eles só se tocam quando a desgraça social está instalada.
Se a seca já é previsível, por que os políticos já não adotaram providências com antecedência?
Será que a classe política está sabendo que o observatório Meudon da França avisa que, a partir da segunda década do século XXI, vai haver vários ciclos de seca no Nordeste? Exatamente, já começou: 2012, 2013, 2014 e 2015, afora uma seca parcial, no Ceará, em 2011, no Vale do Curu. E que ela pode se prolongar? Qual a solução ou soluções? Os estudiosos da problemática regional nordestina sabem. Procure-os. Abandonem, senhores políticos, a letargia e saiam da posição estática em que se encontram. Não voltem as costas ao povo.
Será que vai se repetir o que aconteceu em 1877-1879 quando mais de 1.700.000 pessoas morreram de fome, sede e doenças, o que não aconteceu mais devido à infraestrutura hídrica montada pelo Dnocs que criou uma dicotomia desenvolvimentista antes e depois da instalação desta instituição? Mas, caro leitor, a população nordestina cresceu, o consumo aumentou, o uso do líquido precioso estendeu-se às indústrias e irrigações, o aquecimento global é uma realidade, e a rede de açudes secou.
Será que vamos ficar nos deleitando em cima do poema de Carlos Drummond de Andrade transformado em música? E agora. José? Afesta acabou, o povo sumiu, a noite esfriou…
E agora, José?