DNOCS, memória ameaçada
Por Cássio Borges
Nunca é pouco relembrar que o Dnocs construiu mais de 100 açudes somente aqui, no Estado do Ceará, tornando-se, portanto, credor do respeito e reconhecimento de todo o povo cearense
Se a brilhante trajetória do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas-Dnocs, nos dias atuais, parece estar caindo no rol do esquecimento, principalmente, para a atual geração de nordestinos e brasileiros, o que me revolta é ousadia do Secretário de Infra-estrutura Hídrica, do Ministério da Integração Nacional vir a público, por meio da imprensa local, querer atribuir seus feitos memoráveis, de quase um século, a organismos estaduais que não têm, sequer, a quarta parte de sua existência. É necessário descobrir o verdadeiro motivo dessa maledicente e difamatória campanha, que já vem há anos, aqui mesmo no Estado do Ceará (pasmem!), contra um dos mais antigos organismos federais do nosso país.
Sei, porque fui testemunha, que essa campanha de dissolução dos órgãos públicos federais de nossa Região partiu de um grupo de técnicos paulistas que, no ano de 1983, sob a égide, louvável, de se pretender elaborar uma Política Nacional de Recursos Hídricos, já preconizava, nas entrelinhas do documento que, paulatinamente, estava sendo elaborado, a exclusão do cenário nordestino de entidades a ele vitais, como o Dnocs e a Sudene, os quais, posteriormente, foram, de fato, extintos, no governo do ex- presidente Fernando Henrique Cardoso. O Dnocs, extinto pela Medida Provisória Nº 1795, de 01.01.99, atendendo a um clamor regional, de toda a bancada nordestina no Congresso Nacional, ressurgiu, mas continua, até hoje, sobrevivendo aos trancos e barrancos em virtude da conhecida má vontade dos burocratas de Brasília desde a época do ex-presidente Fernando Collor de Melo.
Os fatos acima relatados, vêm a propósito da desfaçatez de pessoas que se aproveitam de ter trânsito livre nos corredores do Governo Federal em Brasília, para dar continuidade a campanha, aqui iniciada, há mais de duas décadas, contra o vetusto Departamento das Secas, manipulando fatos históricos daquele organismo, sendo a mais recente a de atribuir à Funceme- Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos e à Cogerh- Companhia de Gestão de Recursos Hídricos a perenização de mais de 2.000 quilômetros de rios no Estado do Ceará. Com todo o respeito que tenho por essas duas entidades estaduais, na condição de quem participou dos estudos hidrológicos que culminaram com a construção de obras como os açudes Orós e Banabuiú, não poderia ficar calado ante tão absurda investida que desvirtua e macula a verdadeira história de um dos mais atuantes organismos, supra-estadual, no trato dos recursos hídricos, do Governo Federal em nossa Região.
Nunca é pouco relembrar que o Dnocs construiu mais de 100 açudes somente aqui, no Estado do Ceará, tornando-se, portanto, credor do respeito e reconhecimento de todo o povo cearense, para não dizer de toda a população nordestina.
Fonte: Opinião – Jornal O Povo