E o cinturão das águas?


Por Evandro Bezerra
Engenheiro Agrônomo – Diretor de Ação Social da ASSECAS

A decantada transposição das águas do Rio São Francisco para as bacias carentes do Nordeste setentrional vem pouco a pouco, se tornando uma figura de retórica, por que os mentecaptos de tal empreendimento, apesar de conhecerem algo de recursos hídricos não atentaram para a inclemência meteorológica de que sempre é alvo o Nordeste brasileiro, demonstrado, claramente, pela história que se repete há séculos com secas trienais, quinquenais e até de sete anos. E esta que está aí, de quatro anos que pode prolongar-se?

Pois bem. A transposição do Rio São Francisco que o vulgo imaginara tratar-se, literalmente, de tirar o São Francisco do seu leito, na realidade consiste apenas da transferência de uma pequena parte de suas águas por meio de uma adutora para algumas bacias do Semiárido nordestino.

No estado do Ceará, inteligentemente, os políticos inventaram o Cinturão das Águas que é mais uma obra eleitoreira do que uma assertiva hídrica de quem não tem o mínimo conhecimento do que é uma vazão. Aliás não se transfere vazão, transfere-se volume, mas para transportar volume precisa-se de vazão. E a vazão prevista pela Agência Nacional de Águas (ANA) para o Ceará de, 8m3/s da transposição dos 26m3/s para o Nordeste setentrional corresponde a 1,2% da vazão do São Francisco após Sobradinho que também é a outorga da ANA. Pelo sim pelo não, fala-se no âmbito do Governo Estadual que o São Francisco vai mandar para o Cinturão das Águas no Ceará, 35m3/s e a seca de 2015 não seria problema.

O ex-governador Cid Gomes na abertura da Semana do Engenheiro Agrônomo, também fez a água subir por gravidade para determinada serra do Ceará, mas o autor deste artigo, não quer que ela desça por conduto fechado. Se ela tiver de descer de algum lugar que ela desça mesmo por gravidade. Os 35m3/s e até 40 m3/s foi repetido por alguns técnicos ligados ao governo. Vão fabricar vazão como quem tenta reinventar a roda?

Senhores leitores, a única medida que poderia salvar o Semiárido nordestino seria a transferência de águas da Bacia do Tocantins, que tem deflúvios sobrantes e não o São Francisco, que hoje e sempre, esteve comprometido e, mesmo assim, encontra acirrada animada diversão por parte de políticos e técnicos dos estados doadores, suscitando acaloradas controvérsias.

E o Cinturão das Águas? Como transferir 35m3/s ou 40m3/s para o Ceará se para o Nordeste Setentrional só está destinado 26m3/s e destes, apenas 8m3/s para o nosso Estado? E a adução do Cinturão das Águas? É da Bacia do Castanhão, conforme um técnico da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH) proclamou no auditório do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca  (Dnocs)? Não tem sentido.

É preciso passar uma imagem fiel, precisa e exata para a sociedade cearense, particularmente, para as regiões que não serão beneficiadas com a transposição do São Francisco.

E o rio secou.

Fonte: Jornal O ESTADO