Estudando a Seca do Nordeste II


Por Evandro Bezerra

Engenheiro Agrônomo – Diretor de Ação Social da ASSECAS

Vários fatores podem ser elencados no estudo da seca no Nordeste Semiárido Equatorial. Além dos elementos climáticos e meteorológicos levamos em consideração: os oceanográficos, os geológicos, os desmatamentos, as trocas energéticas atmosfera-solo-água, os prognósticos do tempo e correntes aéreas, consignando as observações de técnicos estudiosos da quadra estacional da nossa região.

É consenso ao longo do tempo que o calcanhar de Aquiles das nossas precipitações é a irregularidade das mesmas quando comparada às regiões semiáridas dos países temperados, que apesar de chover muito menos que a nossa, não apresentam o fenômeno da seca como acontece em muitos países da Europa. É que neles não existem as irregularidades das chuvas.

Estudada de modo preventivo, um dos caminhos hoje é o da sua previsibilidade baseado no “Prognóstico do Tempo nas Correntes Aéreas”, lembrando Jorge Coelho no seu trabalho Indústria da Seca. Segundo o autor, o Prognóstico do Tempo tem como fundamento, uma série de dados históricos pesquisados no município de Fortaleza e circunvizinhos, levando em conta a mediana da capital cearense, correlacionando-a com as chuvas nos demais estados do Nordeste no período de 129 anos (1849-1978).

Neste período as curvas senóides de 13 em 13 anos e de 26 em 26 anos assinalam uma seqüência de sete anos consecutivos de estiagem com queda de precipitações em Fortaleza abaixo de 1500 mm anuais. Esse aspecto consignava como de seca inclemente 7 anos que se repetiam com absoluta regularidade no período estudado. Este trabalho foi criticado como modelo matemático, mas vem se concretizando ao longo do tempo.

As correntes aéreas são outro indicativo de seca no Nordeste brasileiro sendo necessário para isso que aconteça uma redução de poucos graus no percurso da Frente Intertropical (FIT) para o sul, o que é possível com a previsão de 3 a 6 meses da pressão na Ilha dos Açores. Se essa for elevada em janeiro, teremos, então, a seca no Nordeste. Se for muito baixa, teremos muita chuva devido às invasões de ar frio do sul acompanhadas por outras frentes frias do Hemisfério Norte.

Os desmatamentos são danosos. Afinal as florestas são condicionadoras dos regimes de chuvas, pois funcionam como termostatos naturais através da transpiração dos estômatos das folhas quando a planta perde água para o ar em forma de vapor. Aí está o motivo da nossa preocupação, principalmente, em área de Caatinga onde esse procedimento não deveria ocorrer porque, assim, estão contribuindo para o processo de desertificação, como, os Sertões de São Francisco, na Bahia e em Pernambuco, Irauçuba, no Ceará, e, Gilbués no Piauí. Entretanto, como não se pode viver sem o uso do solo para a produção de alimentos, que os desmatamentos sejam realizados com processos de manejos florestais alternados.

Rebuscando os ensinamentos do ilustre cearense Dr. Theóphilo Ottoni em palestra realizada na Assembléia Legislativa do Estado ao referir-se a seca do Nordeste, estas podem, também, sofrer fortes influências dos obstáculos que defletem e resfriam as massas de ar a níveis de condensação provenientes das áreas oceânicas impelidas pelos ventos alísios e pela falta de uma cobertura equilibradora das trocas energéticas atmosfera-solo-água que perturbam o mecanismo gerador das precipitações.

Os elementos de oceanografia como a temperatura da superfície do mar, TSM, a complexa interação atmosfera-oceano e outros elementos de eustasia, aliados as variações da excentricidade e obliqüidade da eclíptica terrestre, podem ter relacionamento com a seca no Nordeste brasileiro e em outras regiões da Terra. A excentricidade fazendo com que a Terra em seu movimento de translação se aproxime do Sol (periélio) ou dele se afaste (afélio) e a obliqüidade da sua eclíptica com o seu aumento ou a sua redução ocasionando modificações no clima do planeta.

Dizem que no caso presente, a seca está relacionada com a diminuição de 30 segundos da obliquidade da eclíptica da Terra que é o caminho descrito pela Terra no espaço.

Fonte: Jornal O Estado