A forte cheia que atingiu a região do litoral cearense em 2009 pode ter contribuído para o abastecimento d’água de Fortaleza nos últimos anos. Em entrevista ao Tribuna do Ceará, o ex-diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Cassio Borges, revela que um erro cometido naquela época garantiu que a capital cearense não ficasse sem água em 2016.
Naquele ano, a discussão seria se deveria ou não abrir as comportas do açude para abastecer os municípios com falta d’água. Após várias reuniões, envolvendo políticos e técnicos especialistas, foi decidido que as portas não seriam abertas. O que, segundo o ex-diretor do departamento, foi um erro gravíssimo.
“O espaço destinado para volume de espera estava com sua capacidade total. Essa funcionalidade do açude serve para armazenar água para não causar inundações na região do baixo Jaguaribe. Então, não abrir as comportas foi um erro gravíssimo, pois caso acontecesse uma forte chuva, os diques iriam se romper e a região seria completamente inundada”, destaca Cássio.
Segundo Cássio, os diques são feitos de terra e utilizados para manter a água no espaço adequado. Caso a água ultrapasse o volume limite, as barragens são rompidas e a terra utilizada inundaria a região.
Ao entrar em contato com a assessoria de comunicação do Dnocs, o Tribuna do Ceará foi informado que o responsável para responder os questionamentos sobre esta matéria seria o Coordenador do Castanhão. No entanto, após várias tentativas e até a publicação desta matéria as ligações não foram atendidas.
Conforme o engenheiro, o erro cometido naquele ano foi fundamental para o abastecimento de água da capital.
“Graças a esse erro de engenharia, e o não acontecimento de chuvas na região, o açude ganhou uma acumulação adicional, que não era prevista, de 2,3 bilhões de metros cúbicos. E é essa reserva que atualmente está sendo responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza. Caso isso não tivesse acontecido Fortaleza, estaria sem água desde o início de 2015”, ressalta Cassio Borges.
Castanhão
Construído ainda no século XX, o açude Castanhão, que fica localizado no Médio Jaguaribe, é uma das maiores estruturas hídricas no Estado do Ceará. Criado para realizar o abastecimento d’água dos municípios cearenses, hoje, a estrutura atende praticamente apenas a cidade de Fortaleza.
De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), a situação do Castanhão ainda é crítica. Mesmo com as chuvas do início deste mês o açude registrou o nível de aproximadamente 700 milhões de metros cúbicos, o equivalente a cerca de 11,8% da capacidade total do açude.
Devido às circunstâncias, a situação também pode ser preocupante em casos de fortes chuvas. Segundo Cássio Borges, o Castanhão não possui estruturas para enchentes. “O Castanhão não controla enchentes. Caso ocorra uma chuva parecida com as que aconteceram nos anos de 1974 e 1985, também haverá rompimento de barragens”, completa Cássio.
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