Fortaleza só tem água hoje devido a risco de tragédia assumido em 2009, revela ex-diretor do Dnocs

Por Matheus Ribeiro em Cotidiano
24 de janeiro de 2016

Segundo Cassio Borges, um erro de engenharia permitiu que o açude Castanhão acumulasse água que, atualmente, abastece a capital.

Fortaleza só tem água hoje devido a erro gravíssimo tomado em 2009, revela ex-diretor do Dnocs

A forte cheia que atingiu a região do litoral cearense em 2009 pode ter contribuído para o abastecimento d’água de Fortaleza nos últimos anos. Em entrevista ao Tribuna do Ceará, o ex-diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), Cassio Borges, revela que um erro cometido naquela época garantiu que a capital cearense não ficasse sem água em 2016.

Naquele ano, a discussão seria se deveria ou não abrir as comportas do açude para abastecer os municípios com falta d’água. Após várias reuniões, envolvendo políticos e técnicos especialistas, foi decidido que as portas não seriam abertas. O que, segundo o ex-diretor do departamento, foi um erro gravíssimo.

“O espaço destinado para volume de espera estava com sua capacidade total. Essa funcionalidade do açude serve para armazenar água para não causar inundações na região do baixo Jaguaribe. Então, não abrir as comportas foi um erro gravíssimo, pois caso acontecesse uma forte chuva, os diques iriam se romper e a região seria completamente inundada”, destaca Cássio.

Segundo Cássio, os diques são feitos de terra e utilizados para manter a água no espaço adequado. Caso a água ultrapasse o volume limite, as barragens são rompidas e a terra utilizada inundaria a região.

Ao entrar em contato com a assessoria de comunicação do Dnocs, o Tribuna do Ceará foi informado que o responsável para responder os questionamentos sobre esta matéria seria o Coordenador do Castanhão. No entanto, após várias tentativas e até a publicação desta matéria as ligações não foram atendidas.

Conforme o engenheiro, o erro cometido naquele ano foi fundamental para o abastecimento de água da capital.

“Graças a esse erro de engenharia, e o não acontecimento de chuvas na região, o açude ganhou uma acumulação adicional, que não era prevista, de 2,3 bilhões de metros cúbicos. E é essa reserva que atualmente está sendo responsável pelo abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza. Caso isso não tivesse acontecido Fortaleza, estaria sem água desde o início de 2015”, ressalta Cassio Borges.

Castanhão

Construído ainda no século XX, o açude Castanhão, que fica localizado no Médio Jaguaribe, é uma das maiores estruturas hídricas no Estado do Ceará. Criado para realizar o abastecimento d’água dos municípios cearenses, hoje, a estrutura atende praticamente apenas a cidade de Fortaleza.

De acordo com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), a situação do Castanhão ainda é crítica. Mesmo com as chuvas do início deste mês o açude registrou o nível de aproximadamente 700 milhões de metros cúbicos, o equivalente a cerca de 11,8% da capacidade total do açude.

Devido às circunstâncias, a situação também pode ser preocupante em casos de fortes chuvas. Segundo Cássio Borges, o Castanhão não possui estruturas para enchentes. “O Castanhão não controla enchentes. Caso ocorra uma chuva parecida com as que aconteceram nos anos de 1974 e 1985, também haverá rompimento de barragens”, completa Cássio.


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CONCEDI ENTREVISTA POR TELEFONE A ESSE PORTAL DE NOTÍCIAS SOBRE O AÇUDE CASTANHÃO E ENDOSSO TUDO O QUE DISSE MAS, NO FINAL (VER ANEXO), FAÇO UMA RESSALVA. TUDO É IMPORTANTE SER DITO SOBRE ESSA OBRA PARA QUE A POPULAÇÃO POSSA ENTENDER TODA A SISTEMÁTICA DOS RECURSOS HÍDRICOS DISPONÍVEIS NO ESTADO DO CEARÁ NA QUAL ELA FAZ PARTE. ENVIEI O E-MAIL, ABAIXO TRANSCRITO, PARA O EDITOR DO PORTAL DO SISTEMA JANGADEIRO PRESTANDO ESCLARECIMENTOS ADICIONAIS À REFERIDA ENTREVISTA. ATENCIOSAMENTE, CÁSSIO

“MAIS UM ERRO DE ENGENHARIA NO AÇUDE CASTANHÃO”

Li a matéria que foi publicada no Portal da Tribuna do Ceará no último dia 25 em entrevista que prestei, por telefone, a esse veículo de comunicação. Tudo bem, mas no final, houve um engano ao ser atribuída a mim a afirmação de que o Açude Castanhão “romperia caso houvesse um inverno excepcional como os dos anos de 1974 e 1985”. Eu disse, na realidade, que o açude Castanhão “não controla enchentes caso houvesse um inverno excepcional como os de 1974 e 1985”. Os projetistas e promotores desse empreendimento, no caso a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado do Ceará e seus dirigentes, passaram e continuam passando a falsa sensação para a sociedade que o referido açude controla enchentes no Baixo Jaguaribe, o que não é verdade. Em outras palavras, afirmo que o tal “volume de espera” só serviu para aumentar o custo da barragem e deslocar a população ordeira de quatro municípios atingidos por sua bacia imensa e desnecessária bacia hidráulica. O “volume de espera” do Castanhão pode armazenar 2,3 bilhões de metros cúbicos de água, da cota 100m a cota 106m. Não há duvida que o Açude Castanheiro (eu disse Castanheiro, em Lavras da Mangabeira), na bacia do Rio Salgado, afluente principal do Rio Jaguaribe por sua margem direita, com 2,0 bilhões de m³ de acumulação, faria muito melhor este papel, além de se situar na cota 230m, podendo levar a água por gravidade para a maior parte do Estado do Ceará, o que é impossível ser feito pelo Açude Castanhão, situado próximo do litoral, construído na cota 50m. Este é mais um lamentável erro de engenharia cometido por aqueles que se dizem os “maiorais” da hidrologia do Nordeste. Já havia feito este registro no meu livro “A Face Oculta da Barragem do Castanhão – Em Defesa da Engenharia Nacional”, editado em 1999. Não preciso citar nomes. Eles estão nesse livro. Que imensas saudades vamos sentir do DNOCS! Cássio

Fonte: http://tribunadoceara.uol.com.br/noticias/cotidiano-2/fortaleza-so-tem-agua-hoje-devido-a-erro-gravissimo-tomado-em-2009-revela-ex-diretor-do-dnocs/