Mares do Sertão II
Por Cássio Borges
Concordo com a opinião do leitor Dárdano Nunes de Melo ao afirmar, na seção de cartas deste jornal, no último dia 4, que o Caderno Especial sob o título “Mares do Sertão”, publicado no dia 30/08, foi “um dos mais empolgantes temas levantados por este veículo de comunicação”. A matéria mostrou o papel dinamizador dos açudes construídos pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas-Dnocs no Estado do Ceará, de onde se conclui que, sem eles não teria sido possível construir uma civilização, como a que existe, nesta inóspita e seca parte do nosso país. E, por extensão, em toda a região nordestina aonde aquele Departamento Federal vem exercendo as mais variadas ações desde os primórdios de sua existência no ano de 1909, portanto há quase um século.
A importância de um açude foi bem definida nas palavras simples do barraqueiro do açude Orós, Pedro da Silva: “…Mas se não fosse o Orós do Presidente Juscelino (Kubitchek) não existia rico nem pobre. Não tinha nada, nem cidade”. E na análise dos jornalistas que elaboram essa reportagem: “Ele, a exemplo dos habitantes do semi-árido, é um dos que usam o açude para sustentar a mulher e dois filhos”.
Somente no Estado do Ceará, o Dnocs construiu, até hoje, quase 500 açudes entre públicos e particulares, sendo mais de 400 em regime de “cooperação” com a iniciativa privada. Mas não se enganem aqueles que pensam que o Estado do Ceará “tem muita água”, pois a evaporação aqui chega a mais de 2.500 mm/ano e se tivermos períodos secos de 7 a 8 anos seguidos, como os que já ocorreram no passado, a grande maioria desses reservatórios poderão ficar totalmente secos, principalmente se eles estiverem sendo utilizados para a agricultura irrigada que consome muita água. Não haveria água, sequer, para o abastecimento humano e animal.
Mas é sobre o programa da Açudagem em Cooperação, acima citado, que gostaria de me deter neste artigo.Muitas pessoas mal informadas afirmam “que o Dnocs construía açudes em propriedades de particulares”. Isto não é verdadeiro. O que existia era um programa sério do Governo Federal que para “combater a fome, a miséria e viabilizar a vida no sertão” construía açudes de até 10 milhões de metros cúbicos de água armazenada em parceria com a iniciativa privada.Esse programa foi concebido desde os primórdios do Dnocs, em 1909, no qual os interessados entravam com a metade dos recursos destinados à obra e o governo federal com a outra metade. Mas, os proprietários eram obrigados deixar “corredores de acesso” para as populações circunvizinhas se abastecerem de água para usos domésticos. Infelizmente, este vitorioso programa foi extinto no governo do Presidente Jânio da Silva Quadros…
Fonte: Opinião – Jornal O Povo