O DNOCS e o Nordeste
Por Cássio Borges
Rebuscando o passado, deparei-me com um editorial deste jornal, sob o título “Dnocs: patrimônio ameaçado”, datado de 20/10/80, no qual o mesmo faz referências ao notável e eficiente trabalho desenvolvido por aquele organismo em nossa Região.O referido editorial foi motivado pelo declarado propósito do então Ministro Bresser Pereira de extinguir aquele tradicional Departamento. Vejamos alguns de seus trechos:
“Vendo a sua trajetória, não podemos deixar de concluir o quanto essa presença tem sido essencial para que o Nordeste pudesse firmar-se como uma economia viável, apesar de um mínimo apoio para isso. Garantir água para o Nordeste foi uma tarefa a que se entregou o Dnocs de corpo e alma. Hoje, podemos ver o resultado desse trabalho quando dimensionamos os 17 bilhões de metros cúbicos de água armazenada ao longo de oito décadas por todo o Nordeste, 7 bilhões dos quais situados no Ceará. Foram construídas 90 barragens interanuais, 22 mil hectares de perímetros irrigados, fora as áreas circunvizinhas, exploradas pela iniciativa privada…Isso, para contabilizar só esse aspecto mais restrito da vida do órgão, já que no seu início, o Dnocs cumpriu funções muito variadas que incluíam a construção pioneira de estradas e eletrificação…Infelizmente, tende-se a desconhecer, em nosso país, a importância de um órgão como o Dnocs”.
No limiar de completar um século de existência, o Dnocs contabiliza, na longa esteira de suas realizações, a construção, em toda a Região, de 346 barragens públicas e 625 de menor porte, construídas em cooperação com estados, municípios e particulares as quais possibilitaram, graças aos 37 bilhões de metros cúbicos de água acumulados, a perenização de mais de 3.000 quilômetros de rios, superior a toda extensão do Rio São Francisco (2.650 km),ou do Rio Danúbio (2.860 km), o maior da Europa, atravessando sete nações naquele continente. Por este e outros motivos, podemos dizer que o Dnocs fez o desconhecido e impenetrável semi-árido nordestino do século XVIII se aproximar, artificialmente, das condições físicas da Zona da Mata e do Meio Norte maranhense, não se constituindo nenhum exagero essa afirmação.
Em todo esse acervo de realizações, o Dnocs despendeu nos seus 99 anos de existência cerca de US$ 19 bilhões (uma média anual de US$ 200 milhões), que pode parecer muito dinheiro, mas se compararmos com o que foi gasto pelo Governo Federal, somente no ano passado, com a Programa Bolsa Família, isto é, R$ 9,6 bilhões, cerca de 5 bilhões de dólares, chega-se à conclusão que está correto o que disse o acima referido editorial deste jornal: que tudo isso foi obtido “apesar de um mínimo de apoio”.Inegável, pois, o idealismo e a competência do Dnocs.
Fonte: Opinião – Jornal O Povo