Oposição descabida

Por Cássio Borges

O rio São Francisco despeja no oceano 94 bilhões de metros cúbicos de água, em média, por ano, enquanto o rio Jaguaribe, no Estado do Ceará, vai pouco além dos 4 bilhões de metros cúbicos, ou seja, 4,2 bilhões

Será que depois de tudo o que já foi discutido, analisado e demonstrado, o debate sobre a transposição vai recomeçar? Será que a afirmação do Senador Antônio Carlos Magalhães, da Bahia, na Audiência Pública na Ordem dos Advogados do Brasil-OAB, no dia 2/5/2005: “somente o Estado do Ceará tem quase a metade da água disponível do rio São Francisco”, necessita, mais uma vez, ser contraditada mesmo sem que se recorra à hidrologia, infelizmente, ciência desconhecida pela grande maioria dos irracionais e impatriotas opositores da transposição? Aliás, essa afirmação é tão absurda e insustentável que dispensa qualquer comentário. Será que teremos, uma vez mais, de rebater, ou tomar apenas como gozação, a tese absurda do ex-Governador de Sergipe, João Alves, de que o rio São Francisco “vai secar” com a retirada de apenas 26 m3/s, quando a vazão média histórica éde 2.850 m3/s em sua foz? E essas são apenas duas das afirmações descabidas das referidas pessoas, assessoradas por técnicos insensíveis, que podem conhecer muito bem a Zona da Mata de Pernambuco ou da Bahia mas, certamente, não conhecem os horrores de uma seca nos sertões nordestinos.

Em relação à declaração, acima referida, do Senador Antônio Carlos Magalhães, é oportuno esclarecer à opinião pública brasileira que o rio São Francisco despeja no oceano 94 bilhões de metros cúbicos de água, em média, por ano, enquanto o rio Jaguaribe, no Estado do Ceará, vai pouco além dos 4 bilhões de metros cúbicos, ou seja, 4,2 bilhões. Ainda como termo de comparação entre estes dois rios, poderíamos dizer que a vazão regularizada do rio São Francisco, após a barragem de Sobradinho, é de 2.060 m3/s, enquanto à do rio Jaguaribe é de apenas 19 m3/s a partir do açude Castanhão, situado no terço inferior da bacia.

Quanto à estapafúrdia declaração do ex-Governador João Alves, de Sergipe, diríamos apenas que os 26 m3/s do Projeto de Integração de Bacias serão retirados dos 2.060 m3/s da vazão regularizada do rio São Francisco, representando apenas 1,2% deste total. É um valor tão pequeno que nem os molinetes fluviométricos (medem vazão em rios) mais precisos seriam capazes de detectar. Em outras palavras, o rio não vai nem sentir este insignificante desvio. Digo isto com a convicção de quem fez medições de vazões em todos os rios do Nordeste brasileiro durante mais de 35 anos a serviço do Dnocs.

Ainda dentro das absurdas alegações dos críticos desse projeto, queremos nos referir, também, à posição nada coerente do Estado de Minas Gerais, que foi o último a se colocar contra esse empreendimento. Como é sabido, as duas estações de bombeamento previstas no projeto estão localizadas abaixo da barragem de Sobradinho, portanto, a mais de 1.800 quilômetros das nascentes do rio São Francisco, poderíamos dizer, do Estado de Minas Gerais. A essa distância, como pode aquele estado ser prejudicado? Em que e como? Ademais, como disse, as duas estações de bombeamento estão abaixo da barragem de Sobradinho, que tem mais de 60 metros de altura, ligando as duas margens do rio.Desta forma, esta obra, a de Sobradinho, serve de blindagem ou proteção contra qualquer eventualidade, de qualquer natureza, que possa ocorrer no rio abaixo daquele reservatório. Portanto, os Estados de Minas Gerais e a Bahia, pela lógica, deveriam estar inteiramente alheios à posição à transposição, já que não são ou serão afetados por ela.

Há ainda um outro absurdo desde quando se iniciou a discussão deste projeto sob o comando do Ministério da Integração Nacional. É o Dnocs ter sido colocado fora de sua operacionalização. Esse Departamento, durante quase um século, planejou, construiu e vem administrando todos os recursos hídricos do semi-árido nordestino mediante 326 açudes públicos e 622 construídos em regime de cooperação com estados, municípios e particulares. Os 26 m3/s do Projeto de Integração representam apenas a vazão regularizada de dois açudes do porte do Orós (12 m3/s), ou um pouco mais do que a barragem do Castanhão (19 m3/s). Como se pode esquecer a competência desse Departamento Federal para administrar este projeto de Integração de Bacias do Nordeste Setentrional?

Fonte: Opinião – Jornal O Povo