Orós e Castanhão

Por Cássio Borges

Os açudes Orós e Castanhão têm características estruturais diferentes, embora estejam construídos no mesmo rio e tenham suas alturas praticamente equivalentes, isto é, 54 e 60 metros, respectivamente. O Orós, criação exclusiva do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), tem 600 metros de comprimento, enquanto o Castanhão tem 7.770. O Orós tem sua capacidade máxima de acumulação de dois bilhões de m³. O Castanhão, 6,7 bilhões. A distância que separa esses açudes é de cerca de 150 km, mas a diferença topográfica entre os dois é da ordem de 100 metros. O Orós está numa posição mais elevada. Ressalte-se que o açude Castanhão dispõe de um “volume de espera” de 2,3 bilhões de m³, insignificante para cheias excepcionais como às de 1974 e 1985, como exemplos.

Feitas as comparações acima, o que mais pode impressionar aos leigos da ciência hidrológica é saber que os dois açudes têm em comum quase a mesma vazão regularizada (com 100% de garantia), não obstante o Castanhão ter uma capacidade de acumulação 3,5 vezes maior (pasmem!) do que a do Orós. Ressalte-se que a vazão regularizada de um açude é a sua característica mais importante, pois é a que, afinal, define os reais benefícios que ele pode oferecer.

Esta questão da vazão regularizada do açude Castanhão foi um dos temas mais questionados durante os quase 15 anos de discussão em torno desse empreendimento. O que nos parece estranho é a omissão de tal informação no Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará (1992) e em todos os documentos oficiais de sua Secretaria de Recursos Hídricos. Até mesmo no livro mais recente publicado (2002) sobre essa obra “Castanhão – Do sonho a realidade”, de autoria do competente engenherio agrônomo Francisco Pardaillan de Lima, um dos responsáveis pela elaboração do EIA/Rima do Castanhão, esse dado sobre sua a vazão regularizada é, mais uma vez, omitido.

Somente com o bem elaborado e convincente parecer do professor Theóphilo Ottoni para a Semace, em 1992, constando mais de 100 páginas, o “mistério”, digamos assim, foi esclarecido: “A vazão regularizada do açude Castanhão gira em torno de 10 a 12 m3/s”, afirma. As explicações técnicas, do ponto de vista hidrológico, do porquê o açude Castanhão só dispõe de, no máximo, 12 m3/s (idêntica à do Orós), segundo Theóphilo Ottoni, um dos expoentes máximos da engenharia nacional na área de hidrologia e hidráulica, estão expostas no livro “A face oculta da Barragem do Castanhão”, de nossa autoria, editado em 1999.

Em suma, tanto fazia construir uma barragem com 6,7 bilhões de m³ de acumulação, como outra, no mesmo local, com 1,2 bilhão de m3, os benéficos gerados seriam praticamente os mesmos e os impactos negativos seriam, logicamente, muito menores.

Fonte: Jornal O Povo