Significado da transposição
Por Cássio Borges
Para melhor entendermos este assunto permita-me transcrever os seguintes trechos do nosso artigo intitulado “A futura gestão dos recursos hídricos”, publicado por este jornal no dia 27/12/2005 e reproduzido, em 500 mil exemplares pela Fundação Banco Itaú, através da publicação “Escrevendo o Futuro & Artigo de Opinião” distribuída para escolas de Ensino Médio e Fundamental do nosso País:
“No semiárido nordestino, a irregularidade das chuvas tem ocasionado “ciclos secos” de até oito anos seguidos, como o que foi constatado entre os anos de 1950 a 1959. A constatação desses “períodos críticos” já, há tempos, identificados pelo Dnocs, acarreta a redução do aporte de água fluvial para os reservatórios o que, por deficiência de recarga e por medida de precaução, impossibilita a utilização do volume de água armazenado nos açudes, do qual, em consequência, boa parte se perde pela elevada evaporação (2.500 milímetros)”
“Ao integrar os grandes açudes da Região a uma fonte perene externa como o Rio São Francisco, os recursos hídricos locais se potencializarão, possibilitando a gestão de um volume bem maior da água armazenada, estimulando o desenvolvimento social e econômico, tanto na agricultura irrigada, na pecuária, como na indústria, gerando emprego, renda e produzindo alimentos, o que é de interesse Nacional. Com a garantia dessa fonte externa, intensificando-se a utilização das águas acumuladas nos reservatórios, diminuirá a superfície exposta à evaporação e esta se reduzirá, aumentando, de forma substancial, a disponibilidade hídrica realmente utilizável. Em outras palavras, o desenvolvimento social e econômico se dará não pela água do Rio São Francisco que estará chegando, mas pela intensiva utilização das águas locais que seriam perdidas pelo efeito incontrolável da evaporação. Desta forma, as águas advindas da transposição serão reservadas, exclusivamente, ao abastecimento humano e animal sempre que os açudes estiverem secos ou, preventivamente, na iminência de secar”.
Com a transposição, as perdas por evaporação nos açudes poderiam ser reduzidas até menos da metade, gerando, virtualmente, um novo reservatório, e aumentando, significativamente, o aproveitamento de suas águas”. Esses reservatórios virtuais são por assim dizer, constituídos, hipoteticamente, pelo volume d água que deixam, ou deixariam, de ser utilizados justamente para “guardar a água” para vencer uma possível futura seca prolongada, ou um trem de anos secos, no vocabulário do Dnocs. Não mais será necessária essa precaução de guardar a água após a concretização da transposição.
Não pode deixar de ser salientado que, pelo acima exposto, o custo da água trazida pela transposição será diluído no uso mais intensivo e eficaz da água acumulada nos açudes. Ou seja, na realidade, para cada metro cúbico (m³) de água transposto irá representar um volume maior utilizável. Pelo que, inegavelmente, não é o custo do m³ da água bombeada do Rio São Francisco que deve ser considerado na análise custo/benefício da Transposição, mas, sim, sua eficiência hídrica.
Fonte: Jornal O Povo