Transposição na TV Cultura SP

Por Cássio Borges

No debate havido na TV Cultura de São Paulo no último dia 13 do qual participei juntamente com mais cinco convidados sendo o ex-Governador da Bahia, Paulo Souto, o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, João Suassuna, Apolo Hering Lisboa, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e Coordenador do Projeto Manuelzão/UFMG, Francisco Sarmento, Chefe da Assessoria Técnica da Vice-Presidência da República e Jurandyr Ross , geógrafo e professor titular do Dep. de Geografia da USP. Os três primeiros se pronunciaram contra e os demais a favor do Projeto da Transposição.

Quando me foi concedido a palavra, iniciei dizendo que os Estados de Minas Gerais e da Bahia em nada seriam prejudicados com a implantação do Projeto de Integração das Bacias do Rio São Francisco com as Bacias do Nordeste Setentrional. Justifiquei dizendo que o Estado de Minas Gerais está a montante (acima) da tomada d´água do Projeto da Transposição distante cerca de 2.000 quilômetros e que, da mesma forma, o Estado da Bahia também está a montante da referida tomada d´água em cerca de 1.000 quilômetros. Além disso, a barragem de Sobradinho, que é constituída de concreto unindo as duas margens do Rio São Francisco e tem 70 metros de altura, serve de blindagem, ou anteparo, contra qualquer fenômeno que possa ocorrer a jusante daquele reservatório e que pudesse ocasionar qualquer transtorno aos dois estados citados. Afirmei, ainda, que o único prejuízo que o Estado de Minas Gerais poderia ter seria a perda de sua competividade para exportação dos produtos agrícolas produzidos nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba que estão mais próximos dos mercados europeus e dos Estados Unidos. Este, no meu entendimento, seria o único motivo para o posicionamento contrário daquele estado, uma posição puramente comercial que não se coaduna com o sentimento de brasilidade que deve existir entre o heráldico povo mineiro e a gente humilde desta sofrida região.

Quanto aos Estados de Alagoas e Sergipe, de fato o que existe é um descabido posicionamento, egoísta e eleitoreiro, dos seus políticos e dirigentes, pois ambos os estados foram contemplados, graças à construção da barragem de Sobradinho, um empreendimento do Governo Federal, com considerável aumento de sua vazão mínima em sua foz, passando de 690 m3/s para 2060 m3/s. Reclamar de que e porque?

Na minha segunda participação nesse debate, disse que o Projeto da Transposição pretende retirar do Rio São Francisco apenas 26 m3/s, enquanto o Projeto Jaíba, no Estado de Minas Gerais, citado na ocasião por um dos debatedores, vai retirar do Rio São Francisco 80 m3/s. Disse que estranhava a razão porque em relação a esse Projeto não se levantaram as vozes dos ambientalistas e dos que são contra o Projeto da Transposição. Afirmei, por fim, que ambientalmente o Projeto defendido pelo Ministério da Integração Nacional não prejudica em nada a bacia do Rio São Francisco que vai tirar menos de 1% da vazão média natural que chega à sua foz, ou seja, 2.850 m3/s. Citei o caso da cidade de São Paulo que retira 33 m3/s do Rio Piracicaba (68% de sua vazão média), enquanto o Rio de Janeiro importa do Rio Paraíba do Sul 160 m3/s, mais de 60% de sua vazão média.

Foram essas as minhas primeiras intervenções nesse debate ficando à critério do leitor tirar suas próprias conclusões.

Fonte: Opinião – Jornal O Povo