Usina de Belo Monte
Por Cássio Borges
O que preocupa a nós brasileiros e a todas os povos do planeta é o incontrolável desmatamento que se verifica na região amazônica.
Cerca de 56% da matriz energética brasileira ainda está apoiada no petróleo e seus derivados, fonte altamente poluente, extremamente cara, além de estar instalada num período de esgotamento mundial de suas reservas. Na década de 70, o preço do barril de petróleo era de apenas US $ 2,00 e a perspectiva atual é que atingirá, ainda este ano, a US $160,00. As hidrelétricas, que aproveitam a força das águas dos rios para gerar energia, sempre foram consideradas, no Brasil, como uma das mais importantes fontes de energia para sustentar seu crescimento econômico e social. É uma energia limpa e barata. Em nosso país, a demanda de energia cresce na base de 5% ao ano. Portanto, estamos caminhando para uma crise energética de incalculáveis proporções.
A China, para manter seu elevado padrão de desenvolvimento, decidiu construir a polêmica hidrelétrica de Três Gargantas, que obrigou a migração de mais de um milhão de pessoas. Serão 18.200 megawatts (MW). Com isso, a despeito do embate ambientalista, está com seu problema energético equacionado. Foi uma decisão histórica, depois de dezenas de anos de discussão que envolveu várias gerações.
Aqui no Brasil, desde o governo de FHC, se cogita da construção, na região amazônica, da Usina de Belo Monte, recentemente pivô de lamentável incidente, quando um engenheiro da Eletrobrás foi, covardemente, golpeado por grupos indígenas da tribo caipó. A discussão em torno desse empreendimento se arrasta há mais de 20 anos e os seus opositores já invocaram, até mesmo, “o stress que as hidrelétricas previstas para a região amazônica poderiam causar aos bagres do Rio Madeira” (ver revista Veja, Nº. 21, de 28 de maio último, na matéria “Seja criativo, Mink”, página 61). Para eles, isto é mais significativo do que privar dezenas de milhões de brasileiros de ter energia em seus lares e deixar o país livre dos apagões.
A Usina de Belo Monte, no Rio Xingu, no Estado do Pará, terá 11.181 megawatts (MW) de capacidade instalada e toda a energia gerada será interligada ao sistema energético brasileiro. Sua bacia hidráulica, que já foi de 18.000 km2, foi reduzida para apenas 440 km2, dos quais 200 km2 já são inundados pelas cheias normais do rio Xingu. Portanto, a Usina de Belo Monte será, praticamente, a fio d’água, garantida pelo regime fluvial, ou seja, não há necessidade da construção de reservatório. Para se ter uma idéia, o espelho d´água da barragem do Castanhão, no Estado do Ceará, inundou cerca de 800 km2 (NA Máx, cota 108,83m), submergiu uma cidade inteira e deslocou, no total, cerca de 11.000 pessoas. Você sabe quanto ela pode gerar de energia? Apenas 25 MW. O que preocupa a nós brasileiros e a todas os povos do planeta, isto sim, é o incontrolável desmatamento que se verifica na região amazônica. Só no último mês de abril, foram desmatados, naquela região, 1.123 km2, segundo dados oficiais. No ano passado, 5.180 km2. Será que a inundação de apenas 440 km2 causará maiores danos ambientais do que as ações de desmatamento da floresta? Eis a questão!
Fonte: Opinião – Jornal O Povo