Projeto de Transposição

Por Cássio Borges

Paradoxalmente, uma das maiores reclamações que ouvimos durante e após a palestra do ministro Ciro Gomes, na 57ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência-SBPC, no último dia 18, foi quanto à necessidade de maior discussão e transparência do Projeto de Interligação da Bacia do Rio São Francisco com as Bacias da Região Setentrional do Nordeste brasileiro. Disse ´paradoxalmente´ porque se há um projeto que vem sendo debatido de há longo tempo é justamente este. Após a palestra do ministro Ciro Gomes, seguiu-se uma mesa-redonda sobre o mesmo tema, sendo uma das palestrantes a professora Yvonilde Medeiros, da Universidade Federal da Bahia e membro do Comitê do Vale do Rio São Francisco. No final, me apresentei como debatedor do tema, tendo feito, entre outras, as seguintes considerações:

1) Disse que ´nem os Estados de Minas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe têm demonstrado interesse em discutir este Projeto e tanto isto é verdadeiro que nenhuma das 29 Audiências Públicas que foram convocadas e reconvocadas para as principais cidades do Vale do Rio São Francisco, (com 15 dias de antecedência pelos jornais, rádios e televisões), foram realizadas porque, quando a mesa dos trabalhos já estava constituída, chegava um oficial de Justiça com uma liminar determinando que as audiências fossem suspensas. Além das liminares, manifestantes com apitos, gritos e faixas invadiam o recinto tumultuando a reunião´.

2) Na minha intervenção também disse que “sou naturalista, considero-me um ecologista e sou favorável à renaturalização do Rio São Francisco, mas não concordo que aquele rio tenha apenas 360 m3/s de água disponível para usos múltiplos, como afirma o Comitê do Rio São Francisco. Sou favorável que se assegure àquele rio uma vazão ecológica de 690 m3/s, que é a vazão mínima verificada na foz daquele rio desde o descobrimento do Brasil. Considero, portanto, como vazão disponível, a vazão regularizada da barragem de Sobradinho, que é de 2060 m3/s, menos a vazão destinada para fins ecológicos que, como disse, é de 690 m3/s. Portanto a vazão realmente disponível do Rio São Francisco, para diversos usos, seria de 1370 m3/s”. A meu ver, isto é mais uma armação para negar água para o Projeto de Transposição.

3) Para melhor caracterizar a deficiência hídrica em nossa região, falei, na ocasião, de dois grandes períodos críticos ocorridos no Nordeste brasileiro: o de 1927 a 1933 (sete anos) e o de 1950 a 1958 (oito anos). São fenômenos com grande probabilidade de repetição e que poderão trazer sérias e desastrosas conseqüências à população nordestina e, porque não dizer, para a própria Nação brasileira.

Fonte: Diário do Nordeste