A Seca e a Água no Nordeste Brasileiro


Evandro Bezerra
Engenheiro Agrônomo e Diretor Social da ASSECAS

Devemos saber que virou um modismo dizer que o “El Nino”, é o único culpado pela seca do Nordeste, pelo fato de ter sido o ano de 1998, o Ano Internacional dos Oceanos e o Pacífico ser bastante estudado devido o elevado desenvolvimento do Japão, Austrália e os Tigres Asiáticos, desprezando as pesquisas para os oceanos do Hemisfério Sul onde está o Brasil, especificamente, o Atlântico Sul.

A seca e a água são elementos antagônicos na vida das pessoas e das nações. A seca é um fenômeno meteorológico e a água o líquido precioso que comanda a vida em qualquer parte do mundo.

A seca não é a falta absoluta de água, mas, a má distribuição da chuva no tempo e no espaço.

Descrevê-la é fácil, explicá-la é que é difícil, principalmente, no caso do Nordeste semiárido brasileiro, que é uma anomalia na faixa equatorial da Terra, ou seja, é a única região semiárida na faixa equatorial do Planeta, que só tem uma estação climática, a chuvosa, com dois máximos de chuva nos períodos equinociais.

Vamos tentar explicá-la caracterizando o Nordeste do ponto de vista geográfico e climatológico afirmando que o Nordeste brasileiro está geograficamente localizado na zona Equatorial da Terra que tem apenas uma estação, a chuvosa, mas é climaticamente tropical,zona com duas estações, a seca e a chuvosa, cuja característica primordial é a irregularidade das chuvas.A seca do Nordeste,portanto, é uma anomaliana faixa equatorial do Globo, e o seu regime de chuvas, deveria ser do tipo equatorial, considerando a sua localização geográfica na faixa equatorial da Terra,onde está a Amazônia super úmida , Congo,Indonésia, etc. O seu regime, entretanto, se aproxima das regiões tropicais, decretando a sua anomalia climática.

Outro fato que levaria o Nordeste a ser uma região de clima regular é o de apresentar duas frentes pra o mar, a do Norte e a do Leste, no entanto, o seu regime continua tropical, o que lhe confere a semiaridez regional.

O modelo das latitudes médias dos paises temperados não são aplicados nas regiões trópico-equatoriais.

Devemos saber que virou um modismo dizer que o “El Nino”, é o único culpado pela seca do Nordeste, pelo fato de ter sido o ano de 1998, o Ano Internacional dos Oceanos e o Pacífico ser bastante estudado devido o elevado desenvolvimento do Japão, Austrália e os Tigres Asiáticos, desprezando as pesquisas para os oceanos do Hemisfério Sul onde está o Brasil, especificamente, o Atlântico Sul.

Baseado nestas considerações, o geógrafo Caio Lóssio Botelho, afirma que o “El Nino” não é determinante, mas condicionante, para a determinação da quadra estacional do Nordeste e adianta que as correntes marítimas do Atlântico Sul são mais expressivas para estudar a seca do Nordeste e afirma que os anos de 1924, 1926, 1977, 1989, 1994 e 1996, o “El Nino” esteve presente e não houve seca. Não nega, entretanto, a sua influência e argumenta que quando “El Nino” gera o aparecimento do fenômeno “Jet-stream”, ele causa a seca porque o mesmo impede que as frentes frias provenientes do pólo Sul atinjam as baixas latitudes equatoriais onde está o Nordeste brasileiro.

Outro cientista que defende este ponto de vista é Carlos Nobre do INPE, ao afirmar que o “El Nino” não é o principal causador da seca do Nordeste acrescentando que o comportamento do Oceano Atlântico tem uma influência maior sobre a incidência de chuva na região e no Ceará e afirma que o clima doNorte e Nordeste é determinado muito mais pelo Oceano Atlântico, que é menos extenso e cujas anomalias térmicas têm um ciclo mais curto.

Atualmente, 2017, muita gente mal informada se admirou das chuvas precipitadas na faixa litorânea do Nordeste brasileiro, especialmente, no Ceará, chegando mesmo acreditar que a seca tinha chegado ao fim. Ledo engano: a seca pode prolongar-se e ir até 2019. A possibilidade de ela prolongar-se está baseada em denúncia do observatório de Meudon da França dentro da Teoria de Milancovich da diminuição da obliqüidade da eclíptica terrestre de 30 “que vem provocando alteração da radiação solar relacionada ao ciclo endecenal de atividades do Sol, que é avariação cíclica a cada 11 anos dessas atividades do astro-rei. Ela possui épocas de máximo e de mínimo de atividade solar com alternância de fases da presença de grandes manchas solares com escassez de manchas solares.

Segundo aquela instituição internacional, por esse fenômeno, no ano 2000 poderá se iniciar o ciclo das secas, para a próxima década, que é a atual. Essa notícia foi revelada em 1999 que de acordo com o andamento dos estudos daquele observatório de Paris, desde 1953 está havendo uma diminuição da obliqüidade da eclíptica terrestre de 30 segundos, que era de 23°27’08” e hoje é de 23°26’38”.

Coincidência, ou não, é que estamos no ciclo 24 que se iniciou em 2008, atingiu seu pico em 2012 e 2013, quando se iniciou as duas secas, e como o ciclo é de 11 anos, a seca poderá ir até 2019 e, urge uma tomada de providências por parte das autoridades governamentais para que não se repita os dramas da seca de 1877-1879 quando morreram mais de 1.700,000 pessoas.

Não estamos dizendo quevai, mas pode ir até 2019.

Como medida de combate as secas o Governo Federal promoveu uma intervenção governamental no Nordeste com a criação do DNOCS que ficou encarregado da adoção de medidas para atenuar os efeitos das estiagens e dentre elas a montagem de uma infraestrutura hídrica que é a rede de açudagem e que hoje se encontra exaurida exigindo outros artifícios de engenharia hidráulica como a transposição de águas de bacias superavitárias como a do São Francisco e/ou Tocantins para bacias deficitárias como as de regimes intermitentes do Piranhas-Açu, Apodi, Salgado, Jaguaribe, etc.

A transposição, apesar de imprescindível, está sofrendo procastinação, por causa da operaçãoLava Jato, tendo a firma Mendes Junior abandonado a obra da construção do EixoNorte que aduz a água para o Estado doCeará e corremos o risco de sofrermos processos de racionamento de água.

Em 2017 não tivemos seca edafológica porque a chuva foi suficiente para desenvolver o sistema radicular das culturas, mas estamos diante de uma seca hidrológica em que os açudes grandes e médios não recarregaram. Apenas, alguns, poucos reservatórios médios. Senão vejamos:

Segundo a FUNCEME a quadra chuvosa de fevereiro a maio ficou em 553,8mm, portanto, abaixo da média.

Do total do volume acumulado em 3todo o Ceará 18.640.000.000 m, na cota de sangria, temos apenas 12,6%, isto é, 32.348.640.000m, que não atende a disponibilidade hídrica social do Estado.

A transposição do São Francisco só será concluída em 2018, talvez, ninguém, sabe, porque a mesma está sofrendo os efeitos da crise política.

A situação atual dos açudes do Ceará 9 ainda estão sangrando, 106 abaixo de 30%, 40 no volume morto e 16 secos.

Os grandes maiores reservatórios do Ceará temos o Orós com 10,41%, Castanhão com 5,7%, Banabuiú com 0,77% e o Orós com 16,34%.

É bom observar que a transposição almejada do rio São Francisco para as bacias do Nordeste Setentrional incluindo aí o Ceará, fim de canal, se hoje estivesse pronta, não estaria, também, atendendo plenamente, o resultado esperado dentro da gestão preconizada pelo referido projeto, destacando-se a sinergia hídrica, pois daqui até chegarem as suas águas, ela vai encontrar o Castanhão no volume morto ou abaixo deste.

Qual seria a solução, então?

Desenvolver o projeto da transposição Tocantins-São Francisco-Nordeste Setentrional, porque o Tocantins tem deflúvios sobrantes e o São Francisco é comprometido, promover a dessalinização da água do mar que pela divulgação do Governo do Estado do Ceará, também não vai atender a demanda social, mas nós podemos no futuro viver como Israel, que além das usinas de dessalinização, conta com o rio Jordão e o Lago Tiberíades.

Sobre a dessalinização da água do mar há muita polêmica sendo a mais badalada o argumento de que é muito cara. E agora, perguntamos: e a vida humana tem preço? Vejamos o que a esse respeito pensa o governador Camilo Santana do Ceará e o que a imprensa divulgou:

  1. Existem 12 companhias interessadas nos estudos;
  2. Previsão de iniciar a construção: 2° semestre de 2018 e entrar em operação em 2020;
  3. Custo; R$ 500.000,000;
  4. Edital de PMI: Procedimento de Manifestação de Interesse: 12 empresas;
  5. Lançamento de Edital: 13/04/2017;
  6. Objetivo: garantir o abastecimento da RMF cuja população chega 3.500,000 habitantes;
  7. Vazão: 1m/s;
  8. Consumo atual da RMF: 10m/s;
  9. Financiamento: PPP – Parceira Pública Privada;
  10. O Estado compra a água;
  11. Disponibilidade hídrica social preconizada pela ONU: 1000 3m/hab/ano para todos os fins;

Considerações do entrevistado: A vazão de 1m/s não vai atender a demanda pois em uma ano teríamos um volume acumulado e consumido de 331.536.000 m;

Se você vai produzir 31.536.000 m para abastecer 3.500.000 pessoas em 1 3ano, teremos apenas, 9m/hab/ano.

A história da dessalinização tem uma cronologia histórica que se traduz em uma realidade, ou seja, é factível.

  • Em 1928, Curaçau fazia dessalinização 3artificial de 50 m de água potável hoje 3ampliada para 20.000 m/dias;
  • Em 1951, o Chile foi um dos pioneiros na utilização da destilação solar, construindo seu primeiro destilador;
  • Em 1952, o Congresso dos EUA aprovou a lei pública 448, criando meios para reduzir os custos da dessalinização da água do mar e criando o Departamento de águas salgadas;
  • Em 1964, a ilha grega do mar Egeu construiu o alambique syni, considerado o maior da época, para abastecer 30.000 habitantes;
  • Em 1965, a Grã-Bretanha, já produzia 74% de água doce dessalinizada do 3mundo, no total de 190.000 m/dia ou 370.000.000 m/ano;Em 1970, no Brasil, o ITA, promovia as primeiras experiências com destilação solar;
  • Em 1987, a Petrobrás iniciou o seu programa de dessalinização de água do mar para atender as suas plataformas marítimas usando o processo de osmose revessa. Aqui, no Brasil esse processo foi realizado pioneiramente, na Bahia dessalinizando água salobra nos distritos de Olho d’Água das Moças, em feira de Santana e Malhador em Ipiara.
  • Atualmente, existem 7500 usinas em operação no Golfo Pérsico, Espanha, Malta, Austrália e Caribe, convertendo 34,8 bilhões de m de água salgada por ano 3a um custo de U$/2m as grandes usinas do mundo estão no Kwait, Curaçau, Gibraltar, Aruba e Guernesey.

A Arábia Saudita abastece 25.000,000 de pessoas com águas dessalinizadas. É esta, entre outros, a situação da seca e da água no Ceará e no Polígono das Secas, não entrando aí, a situação atual de Pernambuco e Alagoas situados na Zona da Mata do Nordeste, uma das mais chuvosas a Zona da mata não é semiárida. Está localizada no litoral.